Esqueça o Viagra e as "mezinhas" do Professor Karamba, o segredo está
em Louden up now, e os !!! é que sabem. Abandone as aulas de
step, escutar este festim de groove diariamente deverá ser
suficiente para alcançar a silhueta que sempre desejou. Ligue já e
receberá uma postura polÃtica pertinente e uma produção de nÃvel
superior inteiramente grátis. Caso não fique inteiramente
satisfeito/a, não lhe prometemos nada além de um desiludido acenar
pela oportunidade perdida de se render a uma das mais sedutoras
propostas deste ano. Os autores de tal proposta pareciam dispostos a
semear a confusão entre utilizadores de motores de busca e comunidades
de partilha on-line quando baptizaram a banda com o nome de !!! -
deve-se ler "chik chik chik", como quem imita o som de um instrumento
de percursão. Variantes como "tsck tsck tsck" ou "zek zek zek" também
são aceites. Nascidos das cinzas hardcore dos Yah Mos, o !!! foi
separado à nascença do irmão gémeo Out Hud, que optou por uma
sonoridade mais dub e experimentalista. ImbuÃdos pela fraternidade que
os unia, gravaram um split que viria a garantir a devida atenção ao
!!! - o tal irmão que preferia as noitadas de Sacramento à metodologia
do estúdio. Ingressou nas fileiras da cada vez mais ofuscante Touch &
Go e apanhou meio mundo de calças nas mãos com este Louden up
now, ao qual o debut homónimo servira apenas de tubo de
ensaio.
Imaginem o que teria acontecido se o personagem que
John Travolta desempenha em A febre de sábado à noite tivesse
optado por uma carreira na indústria pornográfica. O disco em análise
poderia servir de banda-sonora a qualquer um dos filmes resultantes
desse improvável cruzamento de universos. Eliminem o non-sense
aos Eletric Six, acrescentem-lhe as melhores virtudes dos Gang of
Four, Prince de colheita vintage e o primeiro mandamento do funk -
Parlamient - para alcançar um patamar superior de sensações,
conduzidas pelos caprichos do ritmo: Louden up now, e todos os
seus encantos.
Se o ano passado a menina Goldfrapp incendiava
a libido dos noctÃvagos com Black cherry, os !!! arriscam-se a
ser responsáveis por um baby-boom sem precedentes. Sem pudores,
celebra-se a marginalidade de quem contorna as polÃticas de Giuliani e
Bush através do reivindicar do direito incondicional à liberdade
sexual e saborear dos prazeres terrenos sem reservas. Louden up
now é uma perspicaz afronta a todos os caretas (tradução livre de
"squares") que cederam rapidamente ao conforto do sedentarismo, para,
a partir desse abrigo, fazerem a vida negra a quem se diverte Ã
grande. A retaliação é executada através do politicamente incorrecto
(o disco teve direito a versão "clean") e propagação de um vÃrus
contagioso que levará os infectados a abandonarem os seus empregos
para se dedicarem à volúpia a tempo inteiro. Não restam dúvidas de que
a revolução não será televisionada, mas sim dançada.
Destacar
qualquer uma das suas faixas arrisca-se a ser um exercÃcio traiçoeiro,
já que as suas partes estão unidas pelo elo conceptual. Compará-lo com
os restantes lançamentos associados à nova vaga de pós-punk dançável
também poderá conduzir a equÃvocos vários, mas arrisco a afirmar que o
segundo disco dos !!! é uma lição de savoir-faire para
comparsas como os por demais associados Radio 4. Faça-se o Pepsi
Challenge entre "Dear can" (que nem sequer é dos melhores exemplos) e
"Dance to the underground" dos supracitados Radio 4 para dar conta das
diferenças. A anca não engana. "Shitscheissemerde" é um épico
cosmopolita – bipartido em duas faixas – capaz de nos tele-transportar
até à Manchester das noites loucas da Hacienda. Caso o corpo resista Ã
injecção de ritmo durante grande parte do disco, a última tentação
para o dançarino que há em cada um de nós é "Space island" – nove
minutos capazes de transformar uma vulgar garagem num delicioso
inferno de corpos mergulhados em suor e transe. Everybody cut and
shake that butt! Haverá como desobedecer a tão imperiosa ordem?
O momento é agora. Negar a vontade aos instintos do prazer
equivale a dispensar as potencialidades milagrosas deste Louden up
now. Se este disco caÃsse nas mãos do nosso jet-set, não haveria
páginas do "24 Horas" e "Nova Gente" suficientes para expor tanto
escândalo e delÃrio. No plano internacional, parece que já estou a ver
o PrÃncipe Eduardo do Mónaco fora de si (e dentro de sabe-se lá o quê)
ao sabor da percursão febril dos !!!. Aqui está disco perfeito para
tirar a barriga de misérias a todos os saudosistas de Midnite
vultures. Outro grande candidato ao pódio dos melhores discos de
2004. Foi editado na data do meu aniversário. Acreditem que não podia
ter recebido melhor prenda. Faço minhas as palavras de Tony Wilson:
This is the moment when even the white man starts dancing. Again.