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Nine Inch Nails Add Violence EP

2017
The Null Corporation


2016 acabou com um EP novo - Not The Actual Events - e um aviso de Trent Reznor: para 2017 estavam prometidos "dois grandes trabalhos" dos Nine Inch Nails. Chegados a Novembro, o aviso quase que parece mero fogo de vista. É que, para já, ainda só fomos brindados com um único EP, este mesmo Add Violence, que não é algo que se possa grosso modo considerar como "um grande trabalho", mesmo que trilhe a espaços o mesmo caminho sonoro que o seu antecessor (tendo este constituído o regresso do projecto aos discos e, mais importante ainda, em excelente forma).

Add Violence é a segunda parte de uma trilogia também anunciada por Reznor, filho do meio de uma história sobre alienação, depressão, revolta e procura pela superação. Mas não tem sido esse o modus operandi lírico dos Nine Inch Nails desde quase sempre? Não que canse, mas um homem que apresenta Add Violence como uma reacção ao rock contemporâneo sem garra e sem espinha, «aborrecido» e «genérico» (palavras suas), não pode começar um EP com aquela que parece ser uma paródia de si próprio, "Less Than". Mesmo que a canção soe bem e que os tempos que correm obriguem a invectivas anti-governo.

De facto, só o momento noise que se escuta em "The Background World" confere algum nível de interesse pela coisa - a canção morre lentamente e tudo o que nos restam no imediato, é o ruído. Mas mesmo esse momento fica aquém de uma canção como "Burning Bright (Field On Fire)", possivelmente a melhor canção dos Nine Inch Nails desde "Starfuckers, Inc.", e que coroava Not The Actual Events com a expectativa de um futuro ainda mais risonho.

O problema com Add Violence, visto de forma única e não num contexto maior, é que parece ser formado por aquelas canções que, num LP, não se aproximam das demais em qualidade. Um momento morto, por assim dizer. Esperava-se algo mais negro, mas dilacerante, até pelo título da coisa. Ao invés, aquilo com que ficamos é a sensação de que esta suposta trilogia servirá apenas para levar os fãs mais obsessivos a comprar a futura e previsível box set... Triste para um homem que se posiciona contra o lado mais comercial da música. Aguardemos para ver o que a terceira parte nos reserva.


Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
21/11/2017