bodyspace.net


Richie Brains Who Is Richie Brains?

2016
Exit Records


Ouvir Who Is Richie Brains? é aceitar um convite para uma exposição. Uma exposição organizada por um consorcio apaixonado pelo drum n´ bass, e que não quer ele desapareça só porque muitos o acham um poço vazio. Richie Brains é um boneco; concebido para criar mistério. Atrair. O povo é naturalmente curioso. As redes sociais, para variar, alimentaram teorias, revolveram-se em especulações. Não demorou muito para que o patrão da Exit Records – d-Bridge – revelasse que o cromo com rosto ET fosse um amontoado de gente. Produtores. Unidos por carolice.

Quem é, então, Richie Brains? Ou melhor, quem são? Em nome da causa (da salvação do drum n’ bass?), d-Bridge alistou Alix Perez, Chimpo, Fixate, Fracture, Om Unit, Sam Binga e Stray – conta muito o espírito de todos os envolvidos; conta muito o esforço; a generosidade. Sabe-se lá que super-poderes d-Bridge adquiriu para juntar toda esta gente no mesmo estúdio. A verdade é que conseguiu. Who Is Richie Brains? é a consequência. E que novidades nos traz?

O acantonamento de uma linguagem só leva ao seu empobrecimento. Os nomes que constituem o colectivo sabem disso melhor que ninguém. Há anos que operam. E há anos que têm procurado novas abordagens. Procurado um enriquecimento, numa urgente fuga à ortodoxia. Um bom exemplo é a forma como o drum n´bass encontrou no footwork ideias relevantes. O género não regenera daí. Há uma derivação. Mas sempre é melhor que nada. E Who Is Richie Brains? é mais ou menos isso: é o melhor que nada!

Richie Brains não nos deixa de olhos arregalados de espanto. Mas também não nos deixa desiludidos – como alguns projectos envolvendo altas figuras musicais: tanto talento, demasiados bocejos finais. Who Is Richie Brains? começa a meio gás com um par de jarras que nos deixam de ombros encolhidos (electro-funk e ambientalismo inconsequentes). E tarda a mostrar ímpeto. Mas quando surge, há temas afiadíssimos que cativam a atenção; em especial quando a promiscuidade entre o drum n´bass e o footwork (ora bem!) se revelam sem problemas de coabitação na segunda metade do disco: “Buss It”, “Heartbreaker” e “Tantrum” são as mais-valias da exposição. O verdadeiro pay off de tudo que se engendra. Tirando estes…

Há temas para todos os gostos: do grime com alta gordura bass (“Bring Dat Back”; “Splatta”). Drum n´bass nostálgico (“Voyager”). Drum n´bass sob efeito de ácidos (“The Nine Two Three”). Jungle distópico (“Respek Due”). Parece não haver dubstep, mas ele anda por aqui como uma raposa em busca da entrada para o capoeira (“Likkle Som”). Who Is Richie Brains? não é uma exposição deslumbrante. Mas há tentativa de aprimoramento (em nome da causa!). As boas intenções fazem com que esta operação mostre que o drum n’ bass ainda tem alguma coisinha a dizer. Sem patranhas.


Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com
04/07/2016