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Daniel Levin & Rob Brown Divergent Paths

2015
Cipsela


A editora Cipsela, lançada no início de 2015, não editou ainda muitos discos, mas já conseguiu marcar o panorama da música improvisada com a qualidade das suas gravações. A primeira edição foi um disco de Carlos Zíngaro, gravado ao vivo no Mosteiro de Santa Clara a Velha, em Coimbra – com uma intensidade e imaginação evocativas do histórico solo no Mosteiro dos Jerónimos. Editaram depois a gravação do histórico pianista Burton Greene com o trio português Open Field, Flower Stalk. Concentric Rinds é mais uma pérola do catálogo, um delicioso diálogo improvisado entre a guitarra de Marcelo dos Reis e a harpa de Angelica V. Salvi.

A editora com raiz em Coimbra apresenta neste Divergent Paths um encontro musical entre os americanos Daniel Levin e Rob Brown. Brown e Levin são dois dos improvisadores músicos interessantes da última década, com percursos diversos mas que se vão cruzando. Daniel Levin (violoncelo) tem-se notabilizado sobretudo pelo “jazz de câmara” inventivo que vem desenvolvendo ao leme do seu fabuloso quarteto, com os enormes Nate Wooley, Matt Moran e Torbjörn Zetterberg - os seus quatro discos mais recentes, publicados pela Clean Feed, são boas amostras da originalidade e exuberância da música do grupo.

Rob Brown tem também vários discos editados em editoras portuguesas – não apenas pela Clean Feed, mas editou também um álbum pela entretanto extinta Ruby Red – um duo com Andrew Barker, Live In Chicago. O percurso de Brown tem estado ligado de forma mais directa ao free jazz e o saxofonista tem colaborado com gente como William Parker, Matthew Shipp ou Craig Taborn, além de ter trabalhado com o gigante Anthony Braxton.

Levin e Brown têm partilhado terreno ao colaborarem em diversos projectos, mas mantém também uma parceria em duo há vários anos. Editaram o álbum de estreia do duo no ano de 2010, Natural Disorder (edição da polaca Not Two Records). Este novo Divergent Paths vem continuar o percurso iniciado nesse disco. Encontram-se aqui três temas - “Mutuality”, “Dialogue” e “Match Point” – material que foi gravado ao vivo no Salão Brazil, em Coimbra, em Novembro de 2012.

A dupla desenvolve uma música improvisada completamente aberta, uma aventura sem rede onde cada um dos músicos vai agarrando as sugestões que o outro lança para construir algo novo. Por vezes é o saxofone alto de Brown que toma as rédeas, deixando o violoncelo numa posição mais reactiva; noutros momentos é Levin que força o caminho, ficando o saxofone na sombra. É sobretudo um trabalho de diálogo constante – e o segundo tema do disco tem mesmo esse título (“Dialogue”). A música da dupla Levin/Brown vive nesta comunicação directa, numa permanente escuta atenta, num constante confronto entre acção e reacção. E assim se confirma mais um óptimo volume no curto mas precioso catálogo da jovem editora Cipsela.


Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com
17/03/2016