Em 1994, o famoso crÃtico Simon Reynolds é obrigado a recorrer ao neologismo post rock numa recensão crÃtica sobre Hex, o primeiro disco dos Bark Psychosis. Desde então, o termo tem sido usado para descrever sonoridades muito distintas. Uma facção deste (falso) "movimento" dedica-se à criação de paisagens sonoras e à gestão de frases musicais minimais ao longo de crescendos e acalmias. O dedilhar repetitivo de uma nota vale tanto como a explosão desbragada em camadas de distorção. Não raras vezes, um pressupõe a outra e é neste facto que reside muita da beleza inquestionável de bandas como os Mogwai, Godspeed You! Black Emperor ou Explosions in the Sky, mas também, simultaneamente, o seu calcanhar de Aquiles. Esta forma de pós rock, ao dissecar o rock das suas estruturas previsÃveis, acaba por recorrer a outras estruturas, igualmente previsÃveis para o ouvinte mais calejado. Um beco sem saÃda, portanto.
Isto para chegarmos ao EP de estreia dos lisboetas Ölga, banda que nasce das cinzas dos Freud's Quest. Relativamente à banda de origem, o trio representa uma clara evolução - os três temas dos Freud's Quest na primeira compilação da Bor Land eram ainda incipientes, divididos entre o indie rock tÃpico e um gosto pelas dinâmicas à Mogwai que já despontava. Foi precisamente a partir para explorar este segundo eixo que os Ölga nasceram e este registo homónimo não envergonha na colecção de discos dos fãs de Mogwai.
"Kick Up Iron" é guiada por um piano, elemento melódico único, enquanto um murmúrio de guitarras e vozes imperceptÃveis desenha o fundo sonoro. A tensão é contida até explodir em distorção, sem, contudo, arrancar o ouvinte da modorra confortável. "3am" é uma canção mais convencional, a meio caminho entre os Freud's Quest e a discrição dos Alla Polacca. É o único tema cantado. O epÃteto "bonitinha" afigura-se: não incomoda nem excita o ouvinte. O mesmo epÃteto aplica-se a "Old Piano", dolente e dramática, por força do uso do violoncelo, mas sem particular direcção.
"Train's Fog", o tema mais longo e menos monocórdico, é o melhor momento do EP. É também, curiosamente, o tema mais obviamente influenciado pelos Mogwai e mais devedor da estética acalmia-crescendo-acalmia. Os rufos de bateria fazem lembrar os Explosions in the Sky, mas a escalada em sucessivos acrescentos de camadas de guitarras remete-nos imediatamente para a banda de Glasgow.
Nos Ölga, a dor nunca é expressa e não saÃmos dos territórios da melancolia. A música do grupo acaba por sofrer dessa inconsequência, limitando as suas possibilidades sonoras. É o velho problema referido no inÃcio deste texto. Porém, se é verdade que outras bandas se pautam pela mesma monocromia (os Mogwai, outra vez), faltam ainda aos Ölga canções que incomodem, que mexam nas entranhas, que façam pelo ouvinte algo mais do que o stargazing.