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Arcade Fire Reflektor

2013
Merge


Quem nunca se viu na situação de defender aqueles de quem gosta até às últimas consequências, mesmo quando já nada o justifica? Aquela sensação de apontarem inúmeros defeitos aos nossos amigos quando nós não vemos nem um? Chegámos ao ponto em que já não conseguimos pôr as mãos no fogo pelos Arcade Fire. Por muito que isso nos doa.

Só se esperava o melhor do melhor, com a notícia de que James Murphy seria o homem a cargo da produção do disco (a par dos canadianos e do seu produtor de estimação, Markus Dravs). De facto, dois anos volvidos do término de um projecto de uma dimensão tão significativa como foram os LCD Soundsystem, este era um desafio à altura de James Murphy, para saber como moldaria a sonoridade épica dos Arcade Fire. Mas era sobretudo um desafio para estes últimos, por lhes ter caído um diamante nas mãos, prontinho a lapidar. Como usariam, então, Murphy a seu favor?

Não chegamos ao ponto de dizer que é um mau disco, porque não é. Mas Reflektor, quarto longa-duração dos Arcade Fire (devíamos dizer longuíssima, para darmos ainda mais razão a Noel Gallagher?), é pouco mais que um aglomerado de poucas ideias, alguns bons apontamentos, mais na área da produção que na composição, mas isso não chega. Já em The Suburbs tínhamos apontado um certo sintoma de “muita parra e pouca uva” aos canadianos, e com esta tendência a acentuar-se, começa a ser difícil encontrar-lhes, pós-Neon Bible e num punhado de temas no disco de 2012, razões para fazermos deles uma coisa muito maior do que são.

Claro que há “Reflektor”, tema de mais notória mão-por-detrás-do-arbusto de James Murphy, claramente mais apontada à pista de dança. É eficaz, com momentos de enorme dinâmica, e que nos fez crer sem grandes hesitações que, ao vislumbrá-la no início do alinhamento, o que se seguiria só podia ser ainda maior, mais épico, mais do melhor que os canadianos e o americano nos poderiam dar. Não foi.

E não foi, porque não foi memorável, como eles (quase) sempre são (eram?). Há uma coisa aqui e ali, como na elegante “Here Comes The Night Time”, a puxar a The Cure, e uma ingressão pelo universo mais electrónico em “Porno”, mas nada que seja digno do império sonoro que já escutámos, presenciámos e vivemos em tempos idos.

Não queremos estar aqui perante um enterro e que tudo não passe de um momento menos bem conseguido. Voltamos a repetir, não é um mau disco, porque já lhes conhecemos méritos e glórias passadas. Pena é que Reflektor seja o restaurante da moda e que quando de lá saímos, não nos deixa uma pinga de saudade.


Simão Martins
simaopmartins@gmail.com
10/12/2013