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Hauschka Salon des Amateurs

2011
Fat Cat / 130701


Por esta altura Hauschka já não deverá ser segredo para ninguém. O culto à volta do alemão Volker Bertelmann tem, justificadamente, crescido nos últimos tempos, muito por culpa de discos como Ferndorf (2008) ou Foreign Landscapes (2010). Se no primeiro ficámos convencidos pela criatividade à volta do piano preparado, no segundo fomos confrontados com o desejo de grandiosidade, dando um passo em frente pela utilização da instrumentação orquestral. E apesar de ter passado pouco tempo desde a edição deste último (e também pouco tempo passou desde o seu concerto no Maria Matos), já aí anda um novo disco.

Desta vez Bertelmann volta a surpreender e segue outro caminho. A sua música, de raiz clássica minimal, camarística, mantém esses pressupostos base, mas vai-se transformando em espirais cíclicas de repetição, que vão ganhando a forma de um estranho groove. E não é um groove qualquer, é um groove subtil e hipnótico, inebriante na sua quase infinita circularidade. Se por um instante nos distraímos, às tantas estamos a pensar que teremos entrado num Delorean ilegalmente modificado para viajar no tempo até aos anos dourados do pós-rock. Não estamos em 1998 nem estamos em Chicago, mas esta Berlim 2011 de Hauschka consegue encher-nos de boas recordações.

Apesar do resultado ser relativamente diferente dos discos anteriores, as características do processo de trabalho mantém-se semelhantes, e também assim se mantém a fluidez sonora: é incrível como aqueles pedaços de som ganham formas acessíveis, viram melodias. Este novo disco de Hauschka tem a participação de gente dos Múm (o baterista Samuli Kosminen) e dos Calexico (John Convertino e Joe Burns), mas apesar dos seus (importantes) contributos não serão estes os responsáveis pela viragem de direcção. O mérito estará mesmo no senhor Volker Bertelmann, que mais uma vez confirma o estatuto de músico de excepção, verdadeiramente incomparável.


Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com
13/09/2011