Na capa de fundo preto, uma micro-câmara, espĂ©cie de smaller brother em vigĂlia permanente; no interior, mais um tomo em que a dupla Rob Garza / Eric Hilton nĂŁo desilude os ouvintes acĂ©rrimos da sonoridade lounge – elegante na fusĂŁo de elementos dub ou bossa nova – , mas tambĂ©m nĂŁo arrisca muito nem tem o grĂŁo na asa de Cosmic Game, por exemplo. As latitudes musicais a que os mĂşsicos de Washington vĂŁo beber continuam inalteradas, mudando apenas alguns dos protagonistas que dĂŁo voz ao projecto. Soa mal? NĂŁo; o problema Ă© que soa a mais do mesmo.
«Seems to me like they want us to be afraid, man / Or maybe we just like being afraid / Maybe we’re just so used to it at this point that it’s just a part of us / Part of our culture». A intro do tema-tĂtulo Ă© certeira – desde o 11 de Setembro que o nĂvel de alerta nĂŁo baixa, mesmo que o terrorismo actual seja mais de nĂvel financeiro –, e entre o rap de Mr. Lif e a pulsĂŁo dos sopros, chega o apelo: «don’t succumb to this culture of fear». Apesar desta dica e das palavras de Ras Puma em “Overstand” ou “False Flag Dub”, este nĂŁo Ă©, ainda assim, um álbum com uma carga polĂtica tĂŁo vincada como Radio Retaliation, de 2008. Onde o antecessor era directo (“Vampires” ou “El Pueblo Unido”), Culture of Fear mostra-se mais etĂ©reo, como em “Stargazer” (bela peça de dub narcĂłtico para contemplar o firmamento no embalo de Sleepy Wonder) ou “Tower Seven” – instrumental em forma de longa deambulação atmosfĂ©rica (quase oito minutos) entre o funk e o chill out. AtĂ© mesmo “Free”, a faixa final, apresenta mais interrogações do que certezas na voz de Shana Halligan.
Uma coisa é certa: a alteração de inquilino na Casa mais famosa de Washington trouxe grandes esperanças aos EUA e ao mundo, e muito mudou desde então, entre rupturas e expectativas por cumprir. Mas a embalagem das composições de Thievery Corporation não avançou grande coisa daà para a frente.