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In Her Space No Body Needed

2003
Bor Land


Aplicando a fórmula jornalística “quem”, “como”, “quando” e “onde”, teremos sempre qualquer coisa do género: chamam-se In Her Space e são constituídos por Diogo Valério (guitarra e teclados), Gonçalo Silva (guitarra e voz), Rodrigo Dias (baixo), Nuno Pessoa (bateria) e Stéphane Thirion (voz), tendo este último abandonado o projecto posteriormente a este concerto no Teatro Taborda (Lisboa), que data de 25 de Maio de 2002. Em comum, partilham do entusiasmo e filosofia que alguém terá dito acerca de uma outra banda de universos paralelos: “Apagar o quadro onde se distribuem todas as etiquetas musicais e deixar um grande espaço em branco onde apenas se possa ler ‘música’.”. Depois de ouvir o disco, compreende-se: a fórmula jornalística não é suficiente. Como todos sabemos, a música é essa coisa complexa de mutações constantes, e os In Her Space não são, certamente, a soma de todas as partes. Apesar disso, o universo sonoro não é verdadeiramente novo. Embrulhada em refinadas tapeçarias tridimensionais que potenciam um som quase hipnótico e apoiada por uma secção rítimica de estruturas possantes sobre as quais caminham os sons de guitarra e baixo, com alguns sintetizadores lá pelo meio, a música dos In Her Space cola e não descola de um mundo onde a dimensão do som ultrapassa o domínio das formas: os Radiohead. E é neste ponto, o quase nunca revelar de uma verdadeira personalidade, que se encontra o maior problema da banda.

Depois da participação no Termómetro Unplugged (onde conquistaram um 2º lugar no concurso de versões), na colectânea da Optimus “Pop Up Songs” e numa compilação da editora Bor Land, “007”, a estreia em disco revela uma banda no seu estado mais puro: a actuação ao vivo. O concerto, mostrando temas longe do formato canção (e que tem vindo a ser posteriormente cada vez mais afastado), irrompeu num mundo de linguagens fantasiosas e minimalismos dilacerados. As palmas foram retiradas “for listener’s pleasure” e por isso o que fica é uma ideia de concerto sem público. Os In Her Space enquadram-se numa linha (consciente ou não) que evoca os ambientes dados a conhecer por bandas como This Mortal Coil e Cocteau Twins, mas também todo um imaginário da 4AD que, curiosamente, serviu como porta-estandarte do som elaborado pela outra influência maior, os Sigur Rós.

As intenções ficam bem patentes em faixas como “Random” e “Careless Whisper” (uma contorção de um conhecido tema de George Micheal, em versão lânguida e arrastada), onde se nota afectividade e bom senso ao serviço da música. Enquadrado numa lógica que varre grande parte das novas editoras independentes nacionais – do artwork (que é, diga-se, notável) à atitude – “No Body Needed” é nascido de uma nova forma de trabalhar a música através de concepções editoriais jovens mas, mesmo assim, promissoras.


Tiago Gonçalves
tgoncalves@bodyspace.net
30/07/2003