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Bardo Pond Bardo Pond

2010
Fire



Senhores/a de um som já há muito (alguns poderão argumentar desde sempre) institucionalizado, súmula, tantas vezes perfeita, de uma combustão mental derivada das mais variadas drogas nos meandros do rock, é forçoso reconhecer um terminante verdade (ou elegante ironia) aos Bardo Pond em baptizar este seu primeiro lançamento na mítica Fire Records simplesmente de Bardo Pond. Donos de um culto considerável, que açambarca na sua névoa as mais variadas gentes com o mínimo interesse no psicadelismo, o combo de Filadélfia faz bandeira de uma sonoridade reconhecível que nunca procurou a reinvenção.

Os diamantes em bruto Bufo Alvarius foram sendo lapidados sem uma lógica temporal estrita ao longo destes quase 20 anos, com Lapsed a amenizar de modo mais cancioneiro o brilhantismo fractal de Amanita, mas as viagem cósmica até Ticket Crystals (entre álbuns e edições menores, num hit and miss constante) nunca mapeou um ponto de chegada. Claro que se pode sempre procurar argumentar, com recurso às miudezas que fazem de On the Ellipse um disco mais interessante do que Dilate ou vice-versa, mas existe uma curiosa verdade em ser impossível enunciar O DISCO de Bardo Pond por entre os “fãs”. Um valor acrescido que é mostra de um carinho, pouco habitual nos tempos que correm, perante uma banda tão óbvia quanto continuamente interessante.

Bardo Pond não vem mudar em nada esta situação. E muito dificilmente ficará para a história como um dos álbuns maiores do (recente) sexteto dos manos Gibbons. Repisam-se os mesmos calos, exultam-se as mesmas virtudes de sempre. Desta feita, o mal maior está encerrado na pretensão épica dos 21 minutos de “Undone”, que passa tanto tempo a mastigar o mesmo motivo melódico que quando chega a esperada explosão, esta atinge-nos com a força de um overdrive digital. O torpor que contrasta com punch directo de “Don't Know About You”, ainda assim incapaz de atingir a força anímica de malhas passadas como “Straw Dog”, naquele jeito desencantado de Isobel Sollenberger de cavalgar o riff.

É este último recurso que faz da tensão do baixo de Clint Takeda o fio condutor para as guitarras de “Cracker Wrist” se irem adensando em distorção antes de colapsarem num melter imponente. É aqui, e nas aproximações à folk que têm vindo a ser evidenciadas de modo mais contundente a partir de Dilate que residem os melhores momentos de Bardo Pond: “Just Once” abre o álbum numa aparente irresolução a la “Aphasia” antes da cascata de distorção conferir significado a “Tudo o que Sobe Tem de Convergir” enquanto “Wayne`s Tune” deixa-se pairar nessa aura com recurso ao bottleneck e à flauta para encerrar o périplo de modo descontraído. Pelo meio, “Sleeping” faz jus ao seu nome, num mantra plácido que nunca se encerra.

Momentos de uma maior delicadeza, que sugerem beleza sem a impor, e num contínuo com coisas como “Isle” ou “Tommy Gun Angel” se revelam aqui na melancolia estelar de “The Stars Behind” revestidas de uma fina melancolia. Sem deslumbrar. Que é, contas feitas, o efeito de um disco tão eficaz quanto o previsto, numa banda cuja formação se mantém intacta desde os seus primórdios. Fundações sólidas para que se trate Bardo Pond com o carinho que merece. É fodido ser mesquinho para alguém tão disposto a nunca desiludir. Como uma amizade que se quer preservar.


Bruno Silva
celasdeathsquad@gmail.com
14/03/2011