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El Guincho Pop Negro

2010
Young Turks / Popstock


Se ainda duvidas houvesse da graça criativa de Pablo DĂ­az-Reixa nestes tempos tĂŁo dados a tentativas e procuras solarengas (sim, sim, jĂĄ sabemos que o Priberam diz que solarengo Ă© algo “relativo ao solar (casa nobre)” ou “aquele que, como serviçal ou lavrador, vivia no solar ou fazenda de outrem” mas nĂŁo dĂĄ com nada dizĂȘ-lo de outra forma) e dignas de celebração, Pop Negro desfaz em muito boa parte essas suspeitas. Porque o segundo disco do espanhol El Guincho Ă© um nunca mais acabar de explosĂ”es com epicentro algures entre a África e o Caribe que resultam inevitavelmente – ou nem por isso – num verdadeiro festim pop tingido de mil cores. E, ei, com bom gosto.

Pablo DĂ­az-Reixa soube jogar bem os trunfos neste Pop Negro que de sombrio tem pouco ou nada tem. Soube deixar o riacho correr mais em direcção das cançÔes (cada vez mais assumidas, cada vez mais directas e imediatas), soube gerir as suas influĂȘncias a seu favor – e ser mais El Guincho do que outra coisa qualquer – e soube atĂ© dosear a quantidade. Com menos de 34 minutos, Pop Negro tem o timing exacto para ser um disco entusiasmante do inĂ­cio atĂ© ao fim. Quase sem excepçÔes. E quando em “Bombay” ouvimos Pablo DĂ­az-Reixa dizer “no te vayas a china que allĂ­ no tienen cortinas” sabemos que estamos no sĂ­tio certo. Por momentos parece que esta Ă© a Ășnica saĂ­da possĂ­vel para os males que assolam o dobrar de 2010 para 2011. Spanish do it better.

CançÔes como “Bombay”, cocktail que sĂł podia mesmo ser servido com uma cobertura de steel drum bem generosa, “Novias”, espĂ©cie de queixume caribenho que Ă© espĂ©cie de mĂĄquina do tempo rumo a dias de sol que Ă© espĂ©cie de impossibilidade infinitamente melĂłdica ou “Soca del Eclipse”, canção tipicamente enganadora ao inĂ­cio mas totalmente recompensadora na altura em que tantas cançÔes se decidem (no refrĂŁo, claro), chegam para encher as medidas de quem na pop vĂȘ uma espĂ©cie de escape, de quem acha que o indie deve sair das suas barreiras e molhar os pĂ©s nas ĂĄguas mais quentes, e para dar uma chapada de luva branca em quem achou que Alegranza foi apenas um golpe de graça cheio de cagança. “FM Tan Sexy”, mais ou menos a meio do objecto, Ă© quase um pedido derradeiro e um alerta: ponham mais sexo nessa, desculpem o estrangeirismo, Frequency Modulation, por favor.


André Gomes
andregomes@bodyspace.net
13/01/2011