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Hot Toddy Late Night Boogie

2010
OM Records


Chris Todd produz música como poucos. E não produz num volume desajustado à criatividade que lhe corre nas veias. O pouco que produz em nome individual perdura no tempo. Veja-se o caso de Super Magic que volvidos 10 anos soa agora a um reencontro com um velho amigo. Tal como antes, ainda hoje é uma música pensada para durar, sem excessos. Uma produção imaculada erguida recorrendo a uma determinação de quem procura o beat prefeito conjugado com um impulso capaz de criar uma correnteza melódica progressiva que sabe a proporção certa para manter o elemento electrónico a soar fluido e orgânico.

Poder-se-á dizer que, passados todos estes anos, Chris não aprendeu a fazer nada de novo. E até seria verdade se admitíssemos que o novo disco em nada difere de Super Magic. Mas nada poderia estar mais distante da doce realidade exposta neste excelente regresso que é Late Night Boogie, um regresso, sem dúvida, a avenidas já antes percorridas quando procurava certezas para a sua música. Certezas que há muito havia encontrado aquando do (hoje) intemporal Super Magic. Porque antes não se tratava de simplesmente fazer música que pegasse nos despojos do disco para entrega-los aos desígnios de uma house hipnotizada pelos baixos do funk, o objectivo deste Crazy Penis passava também pela criação de uma harmonia entre o espírito e o corpo. E é de um renovado equilíbrio entre puro hedonismo e amoroso prazer de ouvir música que Late Night Boogie volta eloquentemente a tratar.

Volvidos estes anos, não se estranha muito o que aqui se ouve. A personalidade é a mesma, mas com todas as características que definem uma idade mais consciente, mais madura. Hot Toddy joga hoje na mesma liga de um Lindstrom – isto se pretendermos uma mera comparação ou localização de coordenadas sonoras. Mas a música de Late Night Boogie vale por si: é pulsante sem ser excessivamente electrizante, respira liberdade mesmo que possa parecer ocasionalmente pragmático, desenvolve boogie modernista para consumo nocturno (tanto em casa como num clube), tresanda a funk como a pivete de sovaco no metro a horas de ponta e até a acidez do TB-303 consegue ser convertida em hegemónica matéria-prima pop. Um exemplo de superior gestão emocional na escrita criativa – numa também declarada e nada redundante condição pop/soul com 30 anos de estabilidade –, que se distingue pela ausência de complexos de superioridade. Excelente.


Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com
29/10/2010