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Hauschka Foreign Landscapes

2010
Fat Cat / 130701 / Flur


Há dois anos atrás descobrimos Hauschka através de curiosas explorações à volta de um piano preparado. O disco chamava-se Ferndorf e era qualquer coisa difícil de explicar. Agora o alemão Volker Bertelmann não se fica só por um instrumento, atira-se a tudo, compõe para uma gama lata de instrumentação (para um grupo de 12 instrumentistas, de cordas e sopros) e ganha assim espaço para evidenciar a sua faceta de compositor e arranjador. Com o apoio da americana Magik*Magik Orchestra, ensemble oriundo de São Francisco, Hauschka avança aqui para um projecto mais ambicioso.

O disco vive numa permanente toada melancólica, com as cordas lamentosas sempre presentes, com os sopros subtis na mesmo espírito de inquieta lamuria. Sendo fácil e redutor associar este disco ao minimalismo, será inevitável fazer a referência, pela forma como as obsessivas formas circulares dominam, pela forma como os elementos sonoros se vão espiralando, de modo quase hipnótico. Não sendo ambiciosos na forma (raramente passam os cinco minutos, enduadrado-se nas regras do mundo pop), os temas deste disco vivem numa coerente harmonia. Apesar das evidentes diferenças de cada tema, estes conseguem enquadrar-se e funcionar enquanto conjunto, unidos por ambiências similares.

Após surpreender pela forma como consegue arrancar sons do piano, o alemão Bertelmann dá agora um grande passo em frente, trabalhando a música de forma multidimensional e conseguindo alcançar resultados muito gratificantes. Ora obsessivo, ora sentimental, ora pesaroso, ora sorridente, Hauschka é aqui sempre fiel a uma delicada pureza que abençoa todo o disco. Inteligentemente mapeado para cruzar múltiplas latitudes, a música de Foreign Landscapes é incrivelmente rica.


Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com
19/10/2010