Ouvir um álbum dos Lambchop Ă© sempre uma experiĂŞncia envolvente, que pode ser abordada de duas maneiras: com o volume alto e com volume baixo. No primeiro caso, faz-se um esforço por perceber as vocalizações melĂłdicas mas sussurradas de Kurt Wagner (a sua grande imagem de marca), e a frágil (mas por vezes complexa) instrumentação, que passa quase sempre despercebida. Se mantivermos o volume baixo, a riqueza da mĂşsica dos Lambchop – que, com as constantes mudanças de elenco, sĂŁo mais um colectivo do que uma banda – ganha outro tom: ouvimos uns murmĂşrios longĂnquos de uma voz quente e rouca e ocasionais sobressaltos instrumentais, provenientes de uma trompa, de um piano, ou de um riff de guitarra. Estas duas opções estĂŁo em aberto em Ohio, talvez atĂ© mais do que nunca na carreira dos Lambchop.
PorĂ©m, este Ă© um disco menos melancĂłlico do que o anterior Damaged, com alguns momentos atĂ© upbeat, como “Sharing a Gibson with Martin Luther King Jr.” – um autĂŞntico raio de sol no contexto do evangelho Lambchopiano. PorĂ©m, a introspecção está longe de estar ausente. Basta citar um dos versos da faixa-tĂtulo (a primeira do álbum) para o constatar: “Green doesn’t matter / when you’re blue”, canta Kurt Wagner, num tema que, inicialmente, atĂ© parece ir a caminho da bossa nova, mas que termina em menos de dois minutos e meio, quase em suspenso. A maior parte das canções fala de amor, e na maior parte das vezes parecem ser amores frustrados. “NĂŁo há problema”, parece pensar Wagner, satisfeito com a beleza bucĂłlica das composições da banda, elevada ao expoente máximo no single “Slipped Dissolved and Loosed”, um dos mais desarmantes temas já criados pelo colectivo de Nashville.
Por vezes, Ă© difĂcil descodificar aquilo que Ă© cantado: a voz crooner de Wagner Ă©, basicamente, usada como um instrumento, e nĂŁo como meio narrativo. A abordagem funciona bem no contexto das suas crĂpticas letras, que primam pela ambiguidade e pela literariedade. Instrumentalmente, a guitarra de Wagner funciona como propulsora de composições que levam, Ă falta de melhor, o rĂłtulo de alternative country, e em que convivem rock, folk e jazz. Em Ohio, os Lambchop nĂŁo fazem nada de muito diferente do passado, mas despedem-se com uma pequena pĂ©rola: uma cover do clássico “I Believe in You”, popularizado por Don Williams nos anos 1980, e que Ă© despido dos maneirismos country mais conservadores, levando a canção atĂ© uma essĂŞncia e pureza quase impensáveis. É nisto que os Lambchop sĂŁo bons.