Perdoem-me as divagações, mas há discos assim, feitos de estranhos silêncios, de efervescências sedutoras, de romantismos gélidos, de frescuras arrepiantes e até mesmo de belezas esculpidas em gelo. Música empurrada pelo vento e sussurrada em estranhos contrastes. Música que fala sem companhia e que sonha com a possibilidade virtual do mundo poder ser recriado por palavras que ecoam no espaço e no tempo. O branco não sai da cabeça. Ali permanece em solidão e em puro descanso heróico. As cores garridas, afastadas do destino, aguardam a vez. A espera será longa. No núcleo, onde a acção se desenrola, sentem-se os impulsos da tecnologia; sentem-se as notas cambaleantes, indecisas, belas.
O tÃtulo faz sÃntese do que se ouve no seu interior: música fria para uma temporada invernosa. Techno erguido de sons que ecoam no vácuo. Redundâncias que se constroem no vazio galáctico para logo de seguida se dizimarem entre a orla interior e exterior de um universo em permanente expansão. Dub de baixa temperatura, tÃbio, solvente. Ecos perdidos na memória que relembram o passado mas que insistem no futuro.
The Coldest Season é um disco inspirado e de esquadrias exactas. Relembra os melhores momentos da Basic Channel ou dos Rhythm & Sound, confiando-nos murmúrios minimais que não se confundem com vagas banais, como aquelas que se perdem em longas e inuteis considerações. The Coldest Season é simples, corajosamente despido dos tiques acanhados que frequentemente ocupam o espaço desnecessáriamente. Os temas de Echospace parecem forjados numa assentada única tal a semelhança que exibem. Há coerência estética mesmo quando a repetição hipnótica se instala. Tanto faz «First Point of Ãries», «Celestialis» ou «Elysian». É indiferente procurar diferenças. Tal como é indiferente assinalar este disco como um dos mais interessantes de 2007. Afinal ainda há música do ano passado que se descobre ao acaso e quando menos se espera.