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Linda Martini Marsupial

2008
Rastilho


Após conquistar grande parte dos títulos existentes no seu circuito, um canguru pugilista sente também necessidade de voltar a casa para descansar, reavaliar a carreira desportiva e estender numa corda a pele de combate, se entender isso como necessário. Pela mesma tabela, o Marsupial desta vez interiorizado nos Linda Martini é também criatura merecedora de um interlúdio reservado ao exercício da sua capacidade de reinvenção, ao desaparafusar da desgastada armadura acumulada durante todo este tempo multiplicado em concertos (mais ou menos memoráveis) por toda a parte do país.

Condenados a preencher uma lacuna na frente fresca do chamado rock cantado em português e um pouco estigmatizados pelo papel messiânico que assumiram quase acidentalmente nesse plano, os Linda Martini partiam para a transição entre Olhos de Mongol e um próximo longa-duração (ao que parece, a gravar em Dezembro próximo) com a oportunidade de jogar uma cartada que os revelasse como preparados para superar ou surpreender os que pudessem esperar uma sequela demasiado óbvia do primeiro disco. Embora formalmente adaptada ao formato de EP com seis faixas apenas, a cauda de Marsupial alonga-se além do esperado e, a bem da verdade, aponte-se também que se dá bem com os riscos cometidos, que, sem soarem a malabarismos artificiosos, fazem render quanto baste a alquimia instrumental que tem nos Linda Martini prodigiosos aprendizes.

Entre a inclusão de ritmos electrónicos e coros vocais que parecem ter sido captados a um batalhão de highlanders revoltosos (obrigados à aprendizagem de motes emo em língua portuguesa (Guarda tudo, deita fora! Daqui não vais embora!)), os Linda Martini abrem comportas à inundação agenciada pelas guitarras de corpulência pós-rock que servem bem os propósitos positivamente megalómanos da produção de Makoto Yagiu (If Lucy Fell, Riding Pânico) que joga por aqui uma golpada que tem bem assimiladas as lições cedidas pelos Isis, Pelican (Australasia não é a morada do marsupial?) e Cursive (brilhantes na variação instrumental de Domestica e The Ugly Organ). Os Linda Martini agigantam-se, confrontam as convenções anteriormente elaboradas. No fim, sobra um EP que constitui sólida ponte de passagem, embora sempre sujeita ao risco de parecer inconclusiva ou inacabada até à chegada do álbum que lhe sucederá. Nada que não se perdoe a um disco que tem “As putas dançam slows” como título para o seu derradeiro opus.


Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
05/05/2008