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Bjørn Torske Feil Knapp

2007
Smalltown Supersound


Uma vez mais o norte da Europa. Especificamente a Noruega como ponto central no velho continente onde o frio provoca convoluções na electrónica e a transforma numa manta onde diversas tipologias são retratadas e elaboradas em ponto de ebulição. O resultado não será mais que uma mescla quente que evoca um certo prazer sem ser excessivamente hedionista, que devolve o verdadeiro sentido da especulação à arte e ainda sente a necessidade de expor uma visão singular sobre a matéria-prima, implodindo-a a partir do seu núcleo. O resultado é quase um espectáculo de partículas que se espalham pelo tempo e espaço. Um espectáculo visual que entusiasma quem com regularidade vai tomando conhecimento do melhor que se vai produzindo nesta área.

Lindstrom, Prins Thomas, Todd Terje e uma vez mais Bjørn Torske são alguns dos nomes noruegueses ligados à música electrónica que rejeitam as conjecturas da indústria e constroem retratos sonoros invulgares sem num único momento criarem corpos estranhos e irreconhecíveis. Ou seja, lidam de forma pragmática com a arte, não rejeitam as tipologias mas conseguem devolver alguma ingenuidade à música que aprenderam a gostar na adolescência. A obsessão pelo disco-sound é prova evidente dessa ideia: institui-se um paradigma e lentamente ele vai sendo decomposto e digerido pela especulação inocente a que todo o artista devia ter direito por mérito próprio.

Não sendo muito preciso colocar Torske na mesma bagageira de Lindstrom ou Prins Thomas, e apesar de existirem neste Feil Knapp pequenos pontos de contacto – "Hatten Passer" e "God Kveld" –, a obsessão de Torske neste novo disco é o dub e não tanto o disco-sound. É na Jamaica que o autor encontra a fonte de inspiração, é de lá que é reconhecemos a capacidade de erguer texturas melódicas que vão ecoando pelo tempo. Nem sempre identificamos o dub de forma óbvia, como em "Spelunker" – primoroso Spektrum 128K vs Augusto Pablo – ou "Kapteinens Skjegg", amíude ele camufla-se por entre o disco, o house baleárico ("Loe Bar") e outras precursões com origens pouco consensuais – "Tur I Maskinparken" ou "Møljekalas".

Os devaneios são saudáveis, charmosos e expressivos. A música evoca liberdade e uma melancolia sã, ela revela o tempo que calmamente levou a ser preparada – o último disco de Torske data de 2001. Tudo o que é exposto ouve-se num ápice como se se tratasse de uma música propositadamente light e de consumo instantâneo. A abrangência estilística é deleitante e eloquente, visivelmente resultante de uma inteligência que tem noções claras de como a operação em estúdio deve decorrer – e de como se devem atingir os objectivos. Bjørn Torske tem finalmente mérito próprio, soube decompor a matéria e teve tempo para a digerir. Transmite uma sensação de ingenuidade mas sabe bem que aí reside a mais-valia de um som que vê uma série de partículas assentarem no sítio certo. O espectro de Feil Knapp é integro e de muito bom gosto.


Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com
24/09/2007