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Pelican City of Echoes

2007
Hydra Head


É natural que nos Ășltimos tempos os Pelican tenham vindo a cumprir uma dieta rigorosa aconselhada por mĂ©dicos. Se Australasia (2003) era um peso pesado e The Fire in Our Throats Will Beckon the Thaw (2005) era uma peso mĂ©dio este City of Echoes Ă© peso pena. Equivale isto a dizer que os Pelican perderam algum peso – resumindo. Mas felizmente nĂŁo perderam os ganchos (leia-se riffs) que os caracterizam. O primeiro aviso chega com a triunfante “Bliss in Concrete”, repetitiva ao inĂ­cio (para se impor) e algo surpreendente depois, no endurecimento de ambiĂȘncias que se saĂșda.

Estes Pelican continuam a fazer sentido na Hydra Head apesar de estarem cada vez mais longe do pós-metal que lhes atiraram para cima. Eles já tinham avisado que neste terceiro disco se aproximariam mais do rock (puro e duro) – e cumpriram as promessas. Senão repare-se na paisagem limpa e pouco nublada da faixa que dá nome ao disco – apenas interrompida por memórias de tempos mais enraizados no metal. Exactamente. Aqui, o factor metal parece quase apenas um elemento que salta aleatoriamente fruto de recalcamento, algo que provavelmente dividirá quem escutar este disco.

Ainda que por pouco tempo, os Pelican continuam a dar ares de reinvenção quando aplicam um piano em “Spaceship Broken-parts needed”, um tema nĂŁo especialmente inspirado. A tentativa de cortar o rock instrumental em bocados parece aqui forçado e sem força para se impor. Segue-se “Winds with hands” que levam os Pelican para ĂĄguas cada vez mais afastadas de tudo o que fizeram atĂ© hoje: guitarras acĂșsticas impĂ”em-se e a Ășnica electricidade que se escuta estĂĄ demasiado distante para causar impacto. Os Pelican aplicam de disco para disco a vontade de mudança e, neste caso, fazem-no de faixa para faixa.

“Dead Between the walls”, “Lost in the headlights” e “Far from the Fields” sĂŁo, de uma assentada, trĂȘs oportunidades para os Pelican explorarem matizes distintos, cinzentos vĂĄrios, sequĂȘncias mais ou menos demonĂ­acas de riffs, hiperactividade, ritmos e aceleraçÔes diferentes. Permitem a criação de ambiĂȘncias de tonalidades diferentes em “Dead Between the walls”, enfiam mil riffs em pouco mais de 4 minutos em “Lost in the headlights” e deixam que a guitarra acĂșstica se ouça de vez em quando em “Far from the Fields” (no meio de guitarras medianamente encorpadas), a melhor das trĂȘs. Mesmo depois da despedida conveniente de “A delicate sense of balance”, fica no ar uma certa sensação de desilusĂŁo causada pela discrepĂąncia entre o prometido e o entregue. Longe de ser um mau disco, City of Echoes, excitante apenas a espaços, nĂŁo chega a ser tudo aquilo que poderĂ­amos imaginar do seguidor de um disco como The Fire in Our Throats Will Beckon the Thaw.


André Gomes
andregomes@bodyspace.net
29/05/2007