DISCOS
Lou Barlow
Emoh
· 26 Fev 2005 · 08:00 ·
Lou Barlow
Emoh
2005
Merge


Sítios oficiais:
- Lou Barlow
- Merge
Lou Barlow
Emoh
2005
Merge


Sítios oficiais:
- Lou Barlow
- Merge
Lou Barlow parece empenhado em contornar a consagração que o persegue desde os tempos de Harmacy - o polivalente álbum de uns Sebadoh que não esperavam pela substancial projecção do single "Ocean" (a estação MaldiTa transmitia o video, as rádios passavam a música e até os videos de surf cooperavam). A manutenção do "low-profile" tornara-se ainda mais difícil por altura do quase-homónimo The Sebadoh, que inflamou os ânimos da crítica e viu ser-lhe garantido um lugar em muitas das listas de 1999. Barlow prescindiu do direito a assinalar o "hat trick" que dele faria manchete em todas as publicações especializadas. Ciente de que mais um disco dos Sebadoh seria um desafio ganho à partida, voltou as costas ao mais bem sucedido dos projectos que monitoriza e remeteu a sua motivação para os secundários Folk Implosion. Durante este interregno, dedicou-se também a fazer acrescentos à sua discografia pessoal sob o desígnio de Sentridoh, Lou Barlow and his Sentridoh e sabe-se lá que mais cacos de uma mesma obscuridade a que é praticamente impossível seguir o rasto. A produção de Lou Barlow a solo é, por isso, comparável a uma hidra de 7 cabeças - corte-se-lhe uma dessas e logo outra ganha forma. Emoh, o primeiro disco oficial (apesar de recuperar faixas antigas, surge como uno e conceptual) de Lou Barlow, arrisca-se a ganhar depressa predominância sobre as congéneres.

Antes de apontar a escrita ao centro nervoso de Emoh, importa referir Lou Barlow como alguém cujo percurso é confundível com o de um quarto de século de indie-rock (sim, esse bicho). Dono de uma determinação própria e predominantemente introvertido, Barlow abandonava os lendários Dinosaur Jr. (muito por culpa de desavenças com J. Mascis) para, no curto período que se sucedeu à saída, submeter o experimentalismo acústico dos primeiros anos de Sebadoh ao poderio da electricidade servida em doses letais (Smash your head on the punk rock justificava o selo da Sup-Pop, tal era o seu caudal de ruído e fuzz). O livre-arbítrio, arrecadado no período pós-jurássico, permitia ao autor (sim, é merecedor desse estatuto) semear transversalmente a sua marca pelos projectos cultivados. Fosse nas fileiras dos Sebadoh ou na intimidade captada em quatro pistas sob o desígnio de Sentridoh, Lou Barlow – mais picuinhas ou mais cáustico e paranóico – não deixava de ser Lou Barlow. Emoh não é excepção e, logo à nascença, perfila-se como colheita vintage.

Reunidas as premissas que alicerçam a fundação de Emoh (inversão de "home" - lar) como adição relevante ao legado Barlow, importa agora digressionar sobre a sua arquitectura, apoiada na engenharia de colaboradores como Jason Lowenstein (Sebadoh), Imaad Wasif (The Folk Implosion) e Russ Pollard (Sebadoh, The Folk Implosion) – os suspeitos do costume que o empreiteiro convocou para a obra. O EMO, à imagem de quem aqui o reinterpreta, envolve a invocação da nostalgia (logo ao entrar, com “Holding back the year") sem recorrer a mecanismos fáceis de sensibilização, o recurso à caixa de ritmos (“Home” partilha da pompa dramática de Mobilize de Grant Lee Phillips) com vista à ampliação de sentimentos camuflados, dilema amorosos revisitados e até - surpresa das surpresas – o recuperar da vassalagem de corte medieval em ”Royalty”. Tudo isto reafirma, de forma plausível, Barlow como uma das mais importantes vozes actuais no tabuleiro de escrita de canções actualmente sob a eminente ameaça de um cheque-mate por parte da “New weird America”.

Emoh será, em última instância, um casebre habitado pelo “poltergeist” emocional de quem o construiu com as suas próprias mãos. Requer uma adaptação gradual e ao quinto dia de estadia já se visitam todas as suas divisões com a noção de familiaridade e conforto. Apesar de parco em clássicos imediatos, vale-se de um magnetismo aparentemente mais duradouro que o dos anteriores registos a solo (que sempre o entrecortavam com algum experimentalismo repelente). Aqui vou ser feliz!

O veredicto traduz-se em escassas palavras: Emoh - enquanto indicio de um novo ciclo – cumpre plenamente sem deslumbrar. Ou seja, a sua matemática é simples: vale por três Sentridohs, mas não chega a um terço de um Sebadoh genuíno. Enquanto o esperado regresso permanece adiado sine die, esta música de umbigo vai preenchendo a cova dos dentes aos saudosistas.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
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