DISCOS
The Men
Leave Home
· 28 Jul 2011 · 12:53 ·
The Men
Leave Home
2011
Sacred Bones


Sítios oficiais:
- Sacred Bones
The Men
Leave Home
2011
Sacred Bones


Sítios oficiais:
- Sacred Bones
(Não) É só meninos.
Uma das melhores frases de sempre de amor ao rock vem da boca do enorme Steve Albini. Citemo-la: I like noise. I like big-ass vicious noise that makes my head spin. I wanna feel it whipping through me like a fucking jolt. Um pensamento que não lhe é absolutamente nada único: quantos de nós procuram essa mesma excitação em discos ou em concertos, essa mesma droga que nos coloque um passo mais perto da surdez? Quantos de nós procuram, ateus e no entanto extremamente religiosos, o riff tão perfeito que só possa ter saído dos dedos de Deus? Enquanto não o achamos, vamo-nos satisfazendo com os dos Homens; que foram criados à Sua imagem, claro está. Estes vêm de Brooklyn - desde há muito a nova Israel - e tocam rock carregado de fuzz como os grandes profetas antes de si. Leave Home é o seu terceiro disco e, não conhecendo os outros, a tentação é dizer que não deverão interessar para nada.

Não nos assustemos, então, se a moleza inicial de Leave Home nos fizer soltar um amargo "meh"; é apenas e só um pretexto para nos baixar as defesas, fazer com que nos sintamos seguros, até demasiado seguros; ali por volta dos três minutos e meio, "If You Leave..." rebenta num riff psicadélico, ruidoso, carregado, enquanto uma voz completa a frase lá no fundo: ...i would die.. Criar um clímax assim é o truque mais velho da história do rock, mas resulta sempre. E, se ainda houver cépticos por esta altura, "Lotus" entra com a pujança necessária para colocar toda a gente a dançar e/ou a partir coisas. Não, isto não é para meninos. Nem é precisa uma voz a partir daí: "Lotus" é instrumental, "Think" é apenas um rugido imperceptível escondido no punk caótico, onde não falta um saxofone a lembrar que "Fun House" é o melhor disco que a humanidade já produziu.

E então, como se estas três primeiras faixas nos tivessem trazido de volta a asma, "L.A.D.O.C.H." é uma travagem a fundo para se respirar (mas não muito); o riff acelerado é substituído por temperaturas doom envoltas em feedback, a bateria cospe-nos na cara e a mesma voz de que falávamos torna-se impossivelmente mais agressiva - terminando com um acenar não aos Stooges mas aos Swans, até na própria lírica (the bringer of everything / nothing is here to stay). Um momento bipolar genial que depois regressa à velocidade de "()", dois parêntesis que nada têm a ver com a conice dos Sigur Rós mas com o delírio ácido dos Spacemen 3 completo com o desejo drogado take me for a ride / take me to the other side (e já chega de enumerar bandas antigas, porque não vale mesmo a pena - ouça-se o raio do disco). E o caos a ele subjacente. Por esta altura, «foda-se!» é um pensamento comum.

Leave Home é várias coisas: um álbum do caraças, uma homenagem aos compatriotas Ramones e uma arma de destruição em massa das colunas lá de casa - porque não se pode ouvir este álbum senão várias vezes e no máximo. Como prova disso, "Night Landing" encerra o disco com uma drum machine e uma melodia virada ao kraut (ah pois, o estereótipo do alemão agressivo e isso) - imaginamos que por aqui já o baterista esteja exausto daquilo que fez e suportou na meia hora anterior. Morto, talvez. Bem, não morto: afinal de contas, estamos a falar de Homens e não de crianças. Homens de fuzz rijo.
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
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